Você é neurodiverso, sabia?
Todos somos neurodiversos. Cada pessoa é única e diferente. Nossos cérebros também são.
Algumas pessoas têm um desenvolvimento atípico, destoando dos padrões de “normalidade” estabelecidos: os neurodivergentes.
O conceito de Neurodiversidade foi criado há alguns anos pela autista australiana Judy Singer ao escutar sua mãe lhe perguntar “why can’t you be normal for once in your life?”
O termo surgiu da reflexão provocada por esta pergunta e vê o autismo sob o prisma da diversidade, defendendo que as diferenças entre as pessoas são normais e inerentes à condição humana.
Esta nova postura ganhou a adesão entusiasmada de muitos autistas, em especial aqueles com maior desenvolvimento social e intelectual que transformam a ideia em um movimento. Rejeitam tratar o autismo como uma patologia, o vendo como parte de sua identidade e não uma doença à espera de uma cura.
O que a neurodiversidade busca?
Os ativistas do movimento pela neurodiversidade opõem-se à aplicação do modelo médico de deficiência ao autismo e sua busca de cura. Rejeitam a ideia de cura assim como tratamentos que busquem a “normalização”, pela eliminação de características individuais.
Advertência: Rejeitar o modelo médico ou a ideia de cura não significa rejeitar tratamentos médicos que busquem dar melhores condições de vida a quem está no espectro autista.
Os “autivistas” desejam que a utilização de recursos públicos priorize políticas públicas de inclusão e apoio às famílias de autistas.
A neurodiversidade tira o foco da cura e o coloca na inclusão e cuidado.
Ao rejeitar o modelo médico e aplicar o pensamento do modelo social de deficiência ao transtorno do espectro autista(TEA), o modelo da Neurodiversidade propõe que o tema seja considerado uma questão social e não individual. Assim, centram sua militância na remoção das barreiras que impedem sua participação na sociedade e exigem a criação de políticas públicas neste sentido.
Por fim, é importante falar em protagonismo e direitos humanos. O protagonismo está no lema nada sobre nós sem nós. Essas palavras reivindicam a participação das pessoas com deficiência nos fóruns de discussão e de formulação de políticas públicas que influenciem em suas vidas.
Os direitos humanos aparecem em reação aos diversos tratamentos, muitas vezes violentos e humilhantes, utilizados na busca da “cura”.
Quem se opõe à neurodiversidade?
A neurodiversidade encontra opositores entre os defensores do modelo médico. Nesse modelo, a deficiência (e o autismo) são vistos como uma questão de saúde, onde o saber e a pesquisa médicos ocupam papel central. O foco são as terapias, sendo todas as demais circunstâncias consideradas secundárias.
A emergência desse ativismo gerou inúmeros conflitos com os pais de autistas. É inegável que essas organizações colocaram o TEA em evidência, conscientizando a sociedade. Sua atuação primou pelo apoio e a busca de financiamento de pesquisas científicas que buscam a cura do autismo.
Um dos conflitos justamente se d[a pelo confronto de prioridades: a exigência de políticas públicas pelos adeptos da Neurodiversidade e o estímulo ao financiamento das pesquisas médicas por associações de pais como a Autism Speaks.
Lugar de fala
A pergunta quem fala em nome dos autistas? também gera acalorados debates.
Tanto autistas e pais veem a si mesmos como os porta-vozes do autismo. Muitos pais, principalmente aqueles com filhos com déficit intelectual e/ou comunicacional se definem como a “voz” dos seus filhos. Nesse debate, defendem que seus filhos constituiriam o “verdadeiro autismo” acusando os “autivistas” de ser uma minoria dentro do espectro.
Esses pais também reivindicam uma espécie de monopólio do sofrimento desconsiderando ou minimizando as limitações e barreiras daqueles que têm maior inteligência e capacidade de comunicação e expressão que seus filhos.
Para os militantes pela neurodiversidade, os pais e mães de autistas falam em seu nome próprio como pais e mães de pessoas que estão no espectro. Para eles, não falam em nomes de seus filhos pois somente autistas podem falar em nome de outros autistas. Igualam essa situação a pessoas brancas falando sobre negritude e racismo e silenciando os negros.
Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/neurodiversidade-marcos-weiss-bliacheris/
Por Marcos Weiss Bliacheris
Advogado da União. Palestrante e ativista pela sustentabilidade e inclusão.
Uma perspectiva interessante do autismo. É uma maneira de enxergar o ser humano apenas como diferente.
CurtirCurtido por 3 pessoas
Boa noite Talita. Muito bom ler suas relevantes informações. Quem sabe precisa falar mesmo. É muito importante que todos nós passamos entender um pouquinho mais, e nas convivências sermos melhores… Afetuoso abraço.
CurtirCurtido por 2 pessoas
Eu discordo dos pais assumindo a defesa dos filhos autistas. Quando essas crianças crescerem, os pais continuarão falando por elas?
CurtirCurtido por 1 pessoa