Reflexões sobre a Educação Especial no Brasil

Com as discussões sobre a atualização da Política Nacional de Educação Especial de 2008, faz-se necessária uma reflexão mais ampla sobre o tema. Por isso, trouxe um texto sobre o tema para que possamos juntos refletir sobre esse assunto tão relevante para o nosso país. Confiram!

Para não deixar de caminhar 

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso, para que eu não deixe de caminhar.

Eduardo Galeano

O belo poema nos remete à história da Educação Especial no Brasil. Em épocas longínquas, a passos curtos, imperava a segregação de pessoas excluídas e marcadas socialmente com rótulos, os quais nos recusamos a trazer novamente em cena. Em torno das mesmas criaram-se diversos mitos, alguns dos quais perduram no tempo e no imaginário social.

Não nos contentamos com rótulos, tampouco com tratamentos excludentes; aliás, devemos trabalhar na direção de eliminá-los, pois mais atrapalham que ajudam. A cada período de tempo é fundamental revisitarmos, olharmos para o que foi objetivamente feito até o momento e novamente nos propormos a caminhar.

Idealizamos uma sociedade justa, livre de preconceitos, na qual as pessoas cujos atributos ( físicos, mentais, intelectuais, sensoriais, todos inegavelmente humanos), embora diferentes da maioria dos humanos, não sejam vivenciados nas relações sociais como um delito, mas como oportunidades de crescimento.

As recentes lutas internacionais e nacionais pela inclusão dessas pessoas reivindicam o reconhecimento de seus direitos: ao convívio social, à educação de qualidade, à inserção no mercado de trabalho, namoro, casamento, dentre outros. Direitos esses ainda precariamente garantidos. É como se tivéssemos caminhado dez passos e o horizonte corrido dez passos.

Como toda utopia está predestinada a se tornar realidade, quando colocada em movimento, vai tornando visível o possível para cada estrutura socioeconômica, política, cultural e educacional. Por vezes, temos a impressão que jamais avançaremos, mas devemos continuar a caminhada para esse horizonte de maneira cada vez mais ousada, obcecados pela concretização desses direitos para todos e por novos avanços.

Todo avanço enfrenta resistências que precisam ser superadas, vencidas, sob pena de ficarmos estagnados, como que atados a um ideal de outrora e às conquistas obtidas. Os avanços dependerão de políticas públicas pautadas na previsão e disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros, para viabilizar e implementar as diretrizes políticas em busca de novos e melhores horizontes.

No âmbito da Educação, novos movimentos sociais surgem em defesa da garantia dos direitos para todos, novas leis impulsionam as políticas a garantir e ampliar a inclusão educacional, à Educação Básica, Ensino Fundamental e Médio e, também, ao Ensino Superior, com equidade, melhores colocações no mercado de trabalho e qualidade de vida. Para além do acesso efetivo a todos os níveis de ensino, a movimentação da realidade implica, necessariamente, na concretização do desenho universal para a aprendizagem e visa a ampliar as oportunidades de desenvolvimento e participação de cada estudante.

Não há consenso entre os profissionais da Educação sobre a quem se destina a atenção educacional especializada, e o quadro dos que demandam apoio da Educação Especial precisa ser constantemente repensado. Quiçá, o horizonte instigue a todos a compreender que tal apoio não deve ser restrito a um determinado grupo de estudantes, como direito deste ou daquele, mas de qualquer um que dele necessite.

O professor, profissional que deveria ser o mais valorizado, para atender a essa demanda precisa de formação inicial, continuada e em contexto. Esse profissional vive a constante sensação: “Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei”. A ele cabe a tarefa de educar na e para a diversidade, avaliar, identificar e promover as aprendizagens e a construção de conhecimentos, reconhecendo as singularidades de cada estudante.

Qual seria, efetivamente, a melhor política de formação de Professores para a Educação Especial que assume a inclusão como princípio básico e norteador, para o alcance de novos horizontes?

Como a realidade é dinâmica e as configurações institucionais contemporâneas experimentam vertigens pós-modernas, faz-se necessário avaliar e monitorar os resultados alcançados, para que o Estado acompanhe e proponha atualizações condizentes com o que a realidade exige.

Parafraseando Hannah Arendt (1995), a política baseia-se na pluralidade entre os homens. Essa afirmativa implica várias outras, contidas na análise do sentido e do significado de pluralidade: multiplicidade, diversidade e variedade, seja dos homens entre si, seja das relações que entre si estabelecem. Assim sendo, ficará compreensível a diversidade de pontos de vista na análise do documento da Política Nacional de Educação Especial 2018, em versão atualizada e preliminar, para consulta pública.

Afinal, para que servem as atualizações? Servem para isso, para que não deixemos de “caminhar”.


Por Miguel Chacon, Professor Assistente Doutor do Departamento de Educação Especial da UNESP,  Rosita Edler de Carvalho, Dra. em Educação com Pós-Doutorado em Neuropsicologia; Erenice Carvalho, pesquisadora associada do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UCB/Brasília.


 

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5 comentários sobre “Reflexões sobre a Educação Especial no Brasil

  1. miriamcarmignan disse:

    Olá! Bem reflexivo seu post. Eu como educadora, vejo a educação especial como uma grandiosidade excepcional para com àqueles que se dedicam ao ensino para com eles. Realmente exige uma formação continuada. Pois cada aluno, tem as suas peculiaridades e requer atenção especial… Carinhoso abraço, Miram Carmignan

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  2. wiliam disse:

    Olá, reflexões sempre são ótimas para crescermos sempre. A melhor forma de criar profissionais e pessoas qualificadas para a Educação Especial, é desde darmos o exemplo para nossos filhos, as crianças de hoje. Ensinarmos à elas o verdadeiro poder do AMOR, torna-los humanos de verdade. Aprender a lidar com os problemas, levando sempre um aprendizado. Ensinando que todos somos uns amigos e irmãos dos outros, que não existe divisão alguma. E que a melhor forma de crescimento e igualdade é lutado juntos pela paz de todos. Estamos caminhando sim, e se ainda estamos passando por todas estas dificuldades humanas, é porque ainda não aprendemos a amar as pessoas e as coisas que fazemos.

    Continue escrevendo para o bem de todos, fique com Deus.
    AMOR E GRATIDÃO!

    Curtido por 1 pessoa

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