3 livros sobre inclusão para ler durante a quarentena

Em tempos de quarentena e isolamento social, os livros podem ser bons aliados para a mente. Então, que tal aproveitar para ler livros sobre o universo da inclusão? Para te ajudar, separamos 3 obras muito interessantes! Confiram!

1. Inclusão escolar. O que é? Por quê? Como fazer?

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Capa do Livro Inclusão Escolar. O que é? Por quê? Como Fazer?

Um livro didático e de linguagem clara, escrito pela renomada autora Maria Teresa Eglér Mantoan, uma das maiores especialistas em inclusão escolar no país . É dela a famosa frase: “Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças.”

No livro, Mantoan explica o que é educação inclusiva, discute os passos necessários para implantá-la e ressalta suas vantagens – tanto para as pessoas com qualquer tipo de deficiência como para os alunos que não as têm. O livro foi lançado em 2003, mas ainda permanece bastante atual e necessário para pais, educadores e todos aqueles envolvidos no sistema escolar.

Na obra, a autora afirma que reluta em admitir as medidas excludentes adotadas pela escola ao reagir às diferenças. Para ela, essas medidas existem, persistem, insistem em se manter, apesar de todo o esforço despendido para se demonstrar que as pessoas não são ” categorizáveis” e aduz que “é a escola que tem de mudar, e não os alunos para terem direito a ela!”.

Esse processo de luta por uma educação inclusiva não é um caminho solitário e só vale se somarmos nossas forças às de outros profissionais, pais, educadores em geral, que estão cientes de que soluções coletivas são as mais acertadas e eficientes.

No primeiro capítulo, intitulado “Inclusão Escolar: o que é?”, Mantoan discorre sobre a crise de paradigma vivenciada na educação, na qual a escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviços, grades curriculares e burocracia. E afirma que uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa fluir, novamente, espalhando sua ação formadora por todos os que dela participam.

As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, enfim, a diversidade humana está cada vez mais desvelada e destacada e é condição imprescindível para se entender como aprendemos e como compreendemos o mundo e a nós mesmos. pg.16

Mantoan fala ainda da diferença entre integração e inclusão. Para a autora, os dois vocábulos – “integração”e “inclusão”-, conquanto tenham significados semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes. A integração escolar pode ser entendida como o “especial na educação”, ou seja, a justaposição do ensino especial ao regular. A inclusão, por sua vez, é incompatível com a integração, pois prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino regular.  Dessa forma, as escolas inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades.

Já no capítulo dois “Inclusão Escolar: Por quê?”, a autora afirma que é fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola”e é mais fácil ainda encaminhar para as classes e escolas especiais, os que têm dificuldades de aprendizagem e, sendo ou não deficientes, para os programas de reforço e aceleração.

Para responder a pergunta do “Por quê”, Mantoan foca em três aspectos, quais sejam: a questão da identidade X diferença, a questão legal e a questão das mudanças. Para a autora, é preciso combater a descrença e o pessimismo dos acomodados e mostrar que a inclusão é uma grande oportunidade para que alunos, pais e educadores demonstrem as suas competências, os seus poderes e as suas responsabilidades educacionais.

No último capítulo do livro, Mantoan discorre sobre “como fazer”a inclusão escolar, abordando as condições que contribuem para que as escolas se tornem espaços vivos de acolhimento e de formação para todos os alunos. A autora aponta que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam, em grande parte, do modo como o ensino é ministrado e de como a aprendizagem é concebida e avaliada.


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Além disso, a autora elenca tarefas fundamentais para se mudar a estrutura escolar:

  • Recriar o modelo educativo escolar, tendo como eixo o ensino para todos;
  • Reorganizar pedagogicamente as escolas;
  • Garantir aos alunos tempo e liberdade para aprender, bem como um ensino que não segrega;
  • Formar, aprimorar continuamente e valorizar o professor, para que tenha condições e estímulo para ensinar a turma toda, sem exclusões e exceções.

A autora traz ainda uma importante reflexão: Como preparar-se para ser um professor inclusivo?  Para ela, ensinar, na perspectiva inclusiva, significa ressignificar o papel do professor, da escola, da educação e de práticas pedagógicas que são usuais no contexto excludente do nosso ensino, em todos os seus níveis.

2. Sociedade Inclusiva – Quem cabe no seu todos?

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Capa do livro “Sociedade Inclusiva: Quem cabe no seu todos?”

Essa obra é fruto do trabalho da jornalista e ativista social Claudia Werneck e tem como intuito discutir o uso leviano da palavra TODOS, especificamente no Brasil. Afinal que condições humanas cabem no TODOS social brasileiro? A autora defende que o direito à igualdade social só será garantido a alguns cidadãos com o reconhecimento e a valorização de suas diferenças.

Para Wernerck, buscar um mundo inclusivo significa enfrentar desafios permanentes. Dentre os quais, a autora destaca:

  • Utilizar a diversidade humana e, especificamente, a deficiência, como estratégia catalizadora de avanço e de justiça sociais; e promotora, como um ímã, da formação de redes de pessoas, profissionais, conselhos, entidades não-governamentais e governamentais que, juntos, articularão a construção de um mundo inclusivo.
  • Inserir o tema da Inclusão de pessoas com deficiência na sociedade, visto como de interesse restrito da família, ou como problema da família, e um universo maior, o da dívida social brasileira. Segundo a autora, essa dívida refere-se à diferença entre o que a sociedade oferece e o que deveria oferecer aos seus cidadãos.
  • Provar que pessoas com deficiência são geradoras de capital social. E, portanto, podem ajudar a saldar a dívida que a sociedade tem com elas. A autora dispõe que TODA pessoa com deficiência é fonte de capital social. Um capital atrofiado, porque raramente tem sido usado. Mas que se multiplicará, a partir de estratégias definidas por movimentos em rede que unirão TODO o país. Foi assim com os negros, as mulheres e com os jovens.
  • Traçar e seguir planejamento estratégico capaz de fazer com que as comunidades, quaisquer comunidades, sintam necessidade de caminhar no sentido de uma sociedade inclusiva, conscientizando-se de que precisam dela, motivando-se então a agir para participar do movimento.
  • Incluir transversalmente o aspecto da diversidade humana no TODOS da pluralidade cultural brasileira. A autora afirma que o seu viés para chegar  à sociedade inclusiva é a deficiência. Há outras estratégias, como cultura indígena, desenvolvimento sustentável, direito das mulheres e protagonismo juvenil. A principal diferença é que essas estratégias têm marketing, appeal, carisma, despertam curiosidade, seduzem. Deficiência não.
  • Convencer a mídia a sair na frente no papel de abre-alas para TODAS as transformações propostas pelo mundo inclusivo. Deficiência é assunto de interesse público, sim. Wernerck afirma que as questões relacionadas à deficiência ainda não estão no TODOS do cotidiano da mídia porque ainda não fazem parte do TODOS do social, que exclui partes do TODO maior, a humanidade. E acrescenta ainda que TODO profissional merece ser reeducado sob a perspectiva da inclusão. Mas a mídia deve ter prioridade, pois a capacidade desses profissionais de influenciar opiniões é imensurável.
  • Provocar o entendimento de que a inclusão não é, definitivamente, uma forma generosa de resolver o problema da segregação dos estudantes com deficiência que hoje estão na escola especial. A escola inclusiva é a saída para a crise do sistema de ensino brasileiro.

3. O Cérebro Autista – Pensando através do espectro

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O Cérebro Autista – Temple Grandin

Esta obra foi escrita por Temple Grandin, uma autista que revolucionou as práticas de tratamento de animais em fazendas e abatedouros e que inspirou o premiado filme da HBO que leva o seu nome, em parceria com Richard Panek que é jornalista e escritor.

A partir de suas experiências pessoais e dados científicos, Grandin busca fazer um panorama do cérebro autista, suas especificidades e compara-o com o cérebro neurotípico.

Grandin inicia a obra afirmando que a genética do autismo é um imbróglio excessivamente complicado que envolve diversas pequenas variações no código genético que controlam o desenvolvimento cerebral. A variação genética encontrada numa criança autista estará ausente em outra criança autista.  A autora acredita que pesquisadores fizeram centenas de estudos sobre as dificuldades dos autistas com a comunicação social e o reconhecimento facial, mas esqueceram-se das questões sensoriais. A hipersensibilidade sensorial é totalmente debilitante para alguns e moderada para outros. Por isso, os problemas sensoriais podem impedir certos indivíduos no espectro autista de participar de atividades familiares comuns e também de conseguir emprego.

Após se submeter a ressonâncias magnéticas e escâner cerebrais dos mais diversos para obter neuroimagens, Grandin percebeu que os cérebros autistas não estavam lesados. Os circuitos não estavam rompidos. Eles simplesmente não se desenvolveram como deveriam e anatomicamente apresentam algumas diferenças, como a amígdalas aumentadas. E há, também, variações entre os cérebros dos autismas. Dessa forma,  a autora afirma que o que está no cérebro autista dela não necessariamente estará no cérebro autista de outra pessoa.

A partir dos dados obtidos em neuroimagens, Grandin busca mapear possíveis diferenças entre um cérebro autista e um cérebro neurotípico. Por exemplo, um estudo publicado pelo Journal of Autism and Developmental Disorders revela que os cérebros numa mostra de autistas altamente funcionais e tipicamente desenvolvidos pareciam responder ao contato visual de modos distintos. No cérebro neurotípico, a junção temporoparietal direita (JTP) estava ativa para direcionar o olhar, ao passo que nas pessoas autistas a JTP está ativa para evitá-lo. Os pesquisadores pensam que a JTP está associada a tarefas sociais que incluem o julgamento do estado mental alheio. O estudo encontrou o padrão oposto no córtex pré-frontal esquerdo: nos neurotípicos, ativação para evitar o olhar; nos autistas, ativação para direcionar o olhar. Então, não é que os autistas não respondam ao contato visual, é que a sua resposta é oposta à dos neurotípicos.

Para Grandin, compreender a anatomia cerebral foi como um alívio, na medida em que serviu de explicação para as esteriotípias presente no espectro. “Pessoalmente, gosto de saber que meu alto grau de ansiedade pode estar relacionado à minha amígdala aumentada. Este conhecimento é importante para mim. Ajuda-me a pôr a ansiedade em perspectiva”.

A autora discorre também sobre a importância dos estudos genéticos para compreensão das especificidades que envolvem o autismo. Isso porque as neuroimagens nos permitem sondar características neuroanatômicas e perguntar: como é? E o que ocorre? Já a genética nos permitiu começar a responder à pergunta: Como o cérebro faz.

A questão dos problemas sensoriais presentes no autismo também são enfatizados na obra. Grandin acredita que não é possível estudar o autismo sem buscar um modo de caracterizar questões sensoriais e destaca os principais: problemas com processamento visual, sensibilidade tátil, sensibilidades olfativa e gustativa. Com relação a sensibilidade tátil, a autora conta ainda que criou uma máquina do abraço para conter a ansiedade e as crises de pânico.

Por fim, Grandin argumenta que é preciso repensar o cérebro autista. Afinal, as pessoas devem estar em busca de um diagnóstico sobre o qual se possa agir. Não basta só dizer “Você é diferente”, mas sim “Você é diferente e por causa desta forma particular de diferença para nós este é o caminho mais provável para levar você ao resultado que queremos que tenha”.  Para tanto, a autora acredita que é preciso identificar os pontos fortes de cada indivíduo de forma a melhor determinar o seu futuro.

Neuroanatomia não é destino. Tampouco a genética. Elas não definem quem você será. Mas definem o que você poderia ser. Definem quem você pode ser. Então, o que pretendo fazer aqui é concentrar-me em como o cérebro autista pode construir áreas de força real – como podemos realmente mudar o cérebro para ajudá-lo no que pode fazer de melhor.

Com o intuito de aproveitar o potencial das pessoas com autismo, Grandim sugere um modelo com três modos de pensamento: visual, por padrões e por palavras/fatos. Dessa forma, o processo de ensino e aprendizagem seria conduzido de acordo com a forma de pensamento prevalecente no indivíduo.

 


Por Talita Cazassus Dall’Agnol


 

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