Conheça o modelo de avaliação biopsicossocial da pessoa com deficiência

A prevalência de pessoas declaradas com algum tipo de deficiência visual, auditiva, motora ou intelectual no Brasil é de 23,9%, o que exige uma reflexão sobre a diversidade de demandas de pessoas que experimentam realidades tão variadas quando elas representam um e cada quatro habitantes do país. De acordo com o modelo integrador da Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (CIF) publicado pela Organização Mundial de Saúde, não bastam os aspectos corpóreos, para a determinação da incapacidade. Os fatores de contexto, que incluem aspectos ambientais e pessoais, também precisam ser incluídos. A avaliação das deficiências deve englobar, portanto, a questão social e da integração dos indivíduos na sociedade. A incapacidade transcende o atributo de um indivíduo, na medida em que também compreende um conjunto complexo de condições, muitas delas criadas pelo ambiente social ou características pessoais além das alterações anatômicas e fisiológicas.

Com o advento da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU de 2006 e da Lei Brasileira de Inclusão ( Lei n° 13.146) aprovada em 2015, surgiu a necessidade de se construir um Modelo de Avaliação da Deficiência para implementação em políticas públicas brasileiras, tais como cotas no serviço público, isenção de IOF, vagas em estacionamentos e Benefício de Prestação Continuada.

Tal  modelo deve estar alinhado com o novo paradigma sobre a deficiência instituído na Convenção e na LBI. De acordo com o artigo 1º da Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do artigo 2º da LBI as pessoas com deficiência são aquelas com

impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, em interação com diversas barreiras, essas limitações podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Histórico e Contextualização

Na década de 70, o modelo adotado para avaliação da deficiência era o Modelo Social, o qual afirmava que a deficiência era um produto das barreiras físicas, organizacionais e atitudinais presentes na sociedade, e não culpa individual da pessoa que tem deficiência, ou mesmo uma consequência inevitável de suas limitações.

Nesse sentido, o Modelo social aponta para a sociedade as falhas atitudinais, estruturais e culturais que criam barreiras que não permitem às PcD desenvolverem suas capacidades.

Já no século XX surgiu o Modelobiomédico defendendo que a deficiência era um atributo ou característica do indivíduo, causada diretamente por doença, trauma ou outra condição de saúde, que requer algum tipo de intervenção de profissionais para “corrigir” ou “compensar” o problema.


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O modelo limita o discurso a lesão e a patologia do indivíduo, indicando a falta de capacidade da pessoa com deficiência de desenvolver seu potencial por causa do infortuno corpo lesionado. Apresentava, assim, uma concepção de tutela e assistencialismo, no qual a pessoa com deficiência deveria receber assistência do Estado para conseguir se desenvolver.

 

O modelo biopsicossocial, por sua vez,  surgiu com a Convenção Internacional da Pessoa com Deficiência a qual preceitua que a deficiência parte de uma condição de saúde que gera deficiência dentro de fatores contextuais. é uma integração dos modelos médico e social.

modelobiopsicossocial

O que se espera com a superação do modelo médico?

  • Maior autonomia e empoderamento da pessoa com deficiência e seus familiares, amigos e relacionamentos.
  • Acessibilidade como um direito fundamental para o exercício da cidadania em condições de igualdade de direitos, levando ao desenvolvimento de Políticas Públicas que contemplem as especificidades das Pessoas com deficiência.

Instrumentos de Avaliação

Os instrumentos de avaliação abrangem a deficiência e a funcionalidade e seus itens discorrem sobre estruturas e funções do corpo, fatores ambientais, domínios da vida, atividades e participação e restrição de participação social. Tais instrumentos ainda estão em fase de validação pelo governo.

  • Instrumento 1 – Identificação do Avaliado: esse instrumento é composto de itens como Dados Pessoais, Sexo, Idade, Raça/Cor e Estado Civil.

 

  • Instrumento 2 – Dimensão Socioeconômica: composto de itens como profissão, renda familiar, localização do domicílio e tipos de benefícios que recebe.

 

  • Instrumento 3 – Estruturas e Funções do Corpo: abrange as funções mentais, sensoriais e de dor, voz e da fala, dentre outras características, conforme itens abaixo:

inst8

inst9

inst10

Índice de Funcionalidade Brasileiro – Versão B do Instrumento de Avaliação

Esse instrumento classificará o grau de funcionalidades de pessoas com deficiência a partir de 7 domínios, quais sejam:

  • Domínio 1: Aprendizagem e aplicação de conhecimento
  • Domínio 2: Comunicação
  • Domínio 3: Mobilidade
  • Domínio 4: Cuidados pessoais
  • Domínio 5: Vida Doméstica
  • Domínio 6: Educação, Trabalho e Vida Econômica
  • Domínio 7: Relações e Interações Interpessoais, Vida Comunitária, Social, Cultural e Política

Valoração

A valoração dos instrumentos  será feita pelo Modelo Fuzzy.

Pontuação Final

Categorização em deficiência leve, moderada ou grave, ou sem deficiência, de acordo com a pontuação da matriz.

Políticas Públicas para PcD que farão uso dos instrumentos de avaliação

1.Cotas no Ensino Superior e Técnico

2.Cotas no Serviço Público

3.Cotas no mercado de trabalho

4.Isenção de IOF

5.Isenção de IPI

6.Isenção de Imposto de Renda

7.Restituição Prioritária do IR

8.Passe-livre Interestadual

9.Meia-entrada

10.Saque do FGTS para compra de OPM

11.Vagas em estacionamentos

12.Aposentadoria da LC 142/2013

13.Pensionista com deficiência

14.Pensão por talidomida

15.Benefício de Prestação Continuada

16.Auxílio-inclusão

17.Residências Inclusivas

18.Centros-dia

19.Serviço de Reabilitação profissional

20.Serviço de Reabilitação em saúde

21.Atenção educacional psicopedagógica

22.Habitação acessível

23.Redução da jornada de servidor com deficiência

24.Redução da jornada de servidor com deficiência para acompanhar dependentes

25.Avaliação funcional para investidura de cargo de servidor com deficiência

26.Viagens com acompanhantes de servidor com deficiência

27.Aposentadoria antecipada de servidor com deficiência

28.Pensionista com deficiência do servidor público

29.Aposentadoria de servidor com deficiência por mandado de injunção

30.Avaliação da idade mental de dependente para concessão de auxílio pré-escolar

31.Desconto da passagem e da bagagem do acompanhante de passageiro com deficiência


Talita Cazassus Dall’Agnol


 

17 comentários sobre “Conheça o modelo de avaliação biopsicossocial da pessoa com deficiência

      • Juliane Schmoller Quoss disse:

        COMO FAÇO PARA TER ACESSO AO MODELO, OU INSTRUMENTO DESTINADO A AVALIAÇÃO? SOU ASSISTENTE SOCIAL E FUI DESTINADA A FAZER UMA PERICIA JUDICIAL APLICANDO ESTE MODELO, POREM NÃO ENCONTREI O QUESTIONÁRIO A INTEGRA.

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  1. MAICON FAGNE DA CRUZ FARIAS disse:

    Boa noite,
    O cespe para o concurso do SEFAZ -DF está pedindo um laudo muito burocratico. MODELO DE PARECER DE EQUIPE MULTIPROFISSIONAL E INTERDISCIPLINAR PARA
    SOLICITAÇÃO PARA CONCORRER ÀS VAGAS DESTINADAS AOS CANDIDATOS COM
    DEFICIÊNCIA E PARA A AVALIAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL.

    Clique para acessar o MODELO_DE_PARECER.PDF

    Eu tenho visão monocular, tenho laudo médico recente e agora estou com dúvidas de como emitir esse laudo do cespe.

    Poderia me ajudar ?
    Obrigado !!

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    • talitacazassusdall'agnol disse:

      Olá Maicon, Boa tarde! Embora a avaliação biopsicossocial esteja prevista na Convenção Dos Direitos da Pessoal com Deficiência e na Lei Brasileira de Inclusão, ainda não foi aprovado um modelo único de avaliação. Então, pelo que vi o CESPE desenvolveu o próprio modelo dele buscando avaliar o quanto que o seu impedimento ( visão monocular) traz limitações e barreiras para a sua participação social. Você pode complementar o laudo médico com uma avaliação de um terapeuta ocupacional e um assistente social. A partir disso, o CESPE irá avaliar se você faz jus a vaga de pessoa com deficiência. Agora, é importante verificar qual o critério de avaliação que a banca irá utilizar, uma vez que ainda não existe um modelo padronizado…

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  2. Patricia Antunes Ferreira disse:

    Bom dia Talita, sou psicóloga do Ministério Público do Estado de Minas Gerais e estou fazendo uma pesquisa bibliográfica sobre Avaliação Psicossocial do Servidor Público com deficiência para fins de aposentadoria especial. Você teria algum artigo, referência bibliográfica ou material na área de psicologia para me enviar. Já vi que não há um formulário para esse tipo de avaliação ainda. Obrigada.

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  3. leo disse:

    boa noite,
    Gostaria que você me esclarecesse se portador de esquizofrenia é considerado pcd?se sim porque vejo muitas decisões dos tribunais negando o direito dos esquizofrenicos de participar das cotas pcd nas universidades federais pelo sisu e pelo prouni?nós esquizofrenicos sofremos muito estigma da doença de que não podemos trabalhar, já fui rejeitado em varias entrevistas de emprego com psicologos recrutadores quando me perguntam se possuo algum problema de saúde e afirmo que tenho esquizofrenia.Recentemente me deparei com o edital do instituto federal do triangulo mineiro proibindo explicitamente no edital do processo seletivo de esquizofrenicos participarem das cotas pcd, denunciei ao ministerio publico federal e estou aguardando o resultado da apuração do MPF.
    se puder me mandar material juridico para fazer recurso contra negativa de eu como esquizofrenico não ser considerado pcd em processos seletivos de vestibulares e vagas de emprego ficarei grato.
    Nós portadores de esquizofrenia sofremos triplamente, uma vez por termos esse transtorno que faz ser vitimas de tanto preconceito e pela negativa do inss que não nos oferece o BPC-LOAS para nos sustentarmos e diz que estamos aptos ao trabalho mas quando buscamos trabalho os recrutadores geralmente psicologos dizem que não estamos aptos para a vaga pois tem medo que surtemos durante o serviço, e assim ficamos desassistidos do estado e do mercado de trabalho.Aí te pergunto como vamos sobreviver?

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    • talitacazassusdall'agnol disse:

      Olá Leo, entendo o seu posicionamento! É realmente uma situação muito complicada. Infelizmente, a esquizofrenia não é considerada uma deficiência e sim uma doença mental. Então, juridicamente esse grupo de pessoas não faz jus aos direitos das pessoas com deficiência. Mas o fato é que se o grau de esquizofrenia os impede de serem inseridos no convívio social, entendo que devam sim fazer jus a políticas públicas específicas que promovam a sua inclusão plena na sociedade. Então, vale a pena verificar junto ao Ministério da Educação, da Cidadania, da Economia e da Saúde se existem benefícios específicos para aqueles que sofrem de esquizofrenia.

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  4. Sandra disse:

    Deveria ser algo simples, mas estou enfrentando dificuldades em encontrar um oftalmologista que saiba preencher esse relatório. Tenho relatório com todas as informações referentes a deficiência, e exames também. Tenho deficiência visual, essa equipe multidisciplinar para preencher o relatório para banca CEBRASPE poderia ser composta por um médico clínico, um médico do trabalho e um psicólogo? Alguém poderia indicar na Bahia um local que emita esse relatório.

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  5. Ariane Sarani disse:

    Boa Tarde faço parte da empresa Mercado livre e preciso de profissionais para fazer parte da nossa equipe médica para fazer avaliação biopsicossocial, conseguem me ajudar com indicações, por se tratar de uma área nova estamos com bastante dificuldade.

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  6. MARILDA DE FATIMA LOPES ROSA disse:

    Boa tarde!Gostaria de saber como vou proceder com a avaliação de um candidato que possui CID Q66.0,Q66.6 para entrar na cota de pessoas com deficiência já que a pessoa se desloca pra qualquer lugar sozinha,não tem nenhum impedimento,apenas sentes dores de um processo cirúrgico de reparação.

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