Existem pessoas que utilizam seus talentos para ajudar os outros e a Juliana Rezende, de 35 anos, é uma delas! Maquiadora profissional, Juliana observou que mulheres com deficiência desistiam de realizar a desejada cerimônia de casamento. O motivo? Não encontravam locais apropriados, vestidos que atendessem às suas necessidades e, principalmente, profissionais interessados na diversidade.
Diante da situação, Ju Rezende criou o projeto #PARAnoivas com o intuito de chamar a atenção de todo o segmento de moda e beleza, voltado para casamentos, para as pessoas com deficiência.
Juliana conta, ainda, que o projeto surgiu a partir das Paralimpíadas ao ver em muitos paralímpicos, mais força e garra para viver do que em muitos de nós tidos como “normais”. Além disso, o fato de possuir uma doença autoimune e ter sido condenada pelos médicos quando tinha apenas 15 anos, tornou-a mais sensível ao próximo.
Administradora por formação, Juliana conta que sempre gostou da área administrativa e no início da carreira acabou seguindo os passos da mãe, que por anos foi chefe de faturamento. Contudo, como chefe de faturamento, Juliana não conseguia conciliar a vida profissional e a vida de esposa. Isso porque há 4 anos seu marido teve a oportunidade de rodar o Brasil por causa do trabalho e foi aí que ela descobriu a maquiagem. Então, fez um cursinho na Contém 1 grama e procurou se profissionalizar por meio de cursos do Instituto Loreal e maquiagem avançada HD no CAMPI. Apesar de estar há apenas 10 meses nesse mercado, não demorou muito para despontar na carreira e logo teve a oportunidade de maquiar as modelos do desfile de noivas da Expo Noivas & Festas no RJ. Depois, foi selecionada para fazer parte da equipe de maquiadores olímpicos e paralímpicos. E, hoje, tem a carteirinha de maquiadora profissional internacional fornecida pela IMATS.
Ao atuar como maquiadora com foco em noivas, Juliana começou a se perguntar: onde estão as noivas com deficiência? Onde estão as mulheres com deficiência? Não é comum irmos ao mercado, shopping, cinema, bares e encontrar cadeirantes e mulheres com qualquer tipo de deficiência… Mas elas existem… então onde estão? Como tenho alguns parceiros (casa de vestidos de noivas, fotógrafos, cinegrafistas, buquê de noiva) pensei: vou fazer um editorial! No início tratava-se de um editorial PcD, contudo acabou sendo renomeado para #PARAnoivas em alusão a PARA de preconceito, PARA e olha para as mulheres com deficiência e a PARAlimpíadas.
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Isso porque Juliana havia entrado em contato com uma amiga, Renata Rodrigues, que trabalha no RH da Porto Seguro e perguntou se ela conhecia alguma menina PcD que topasse fazer um editorial de noiva com ela. E para sua surpresa, Renata não só indicou as meninas, como também a ajudou em todo o projeto e deu o nome dele : #PARAnoivas!
No início do projeto, a maquiadora pensou que seria fácil realizar esse editorial, uma vez que já tinha algumas boas parcerias. Mas o seu primeiro e grande choque veio quando “vendeu” o projeto a uma casa de vestidos de noivas e o dono dela respondeu: Ju, você pode pegar nossos vestidos para qualquer editorial, MAS NÃO PARA ISSO…Esse público não me interessa e não quero associar o nome da minha empresa “A ISSO”. Ela afirma que foi impossível conter as lágrimas e que naquele momento sentiu uma mistura de raiva, tristeza, rejeição e nojo. E ficou se questionando: como assim A ISSO? Então se você tem uma deficiência “exposta”, não tem o direito de viver a realização de sonhos? Digo exposta, porque todos temos alguma deficiência, TODOS! Uns no corpo, outros na alma, outros no caráter…
Contudo, Juliana não se abateu com o “não” e seguiu em frente. Algumas renomadas casas de festa também se fecharam para o projeto. Uma delas chegou a pedir 15 mil reais para a realização das fotos no espaço, afinal para eles essas fotos não agregariam em nada. Mas logo recebeu 2 “sims” gigantes.Um veio de Verônica Nascimento- Artesa de Buquês fakes – que prontamente emprestou buquês para o editorial. O outro foi da estilista Leila Rocha, dona da Casare Noivas em Campo Grande- RJ, que também abraçou a causa e não só cedeu os vestidos, como customizou um exclusivamente para a Liliana – uma das modelos do projeto.
Ao ser perguntada sobre os relacionamentos entre pessoas com e sem deficiência, Juliana acredita que isso é possível sim. E cita o seu próprio exemplo ” Quando conheci meu marido, disse a ele: aos olhos da medicina sou uma pessoa doente e sem cura, mas ele me aceitou mesmo assim! Em fevereiro do ano passado, fui internada com 5 tumores no intestino (que graças à Deus eram benignos) e com uma crise muito forte… Meu marido chegou a faltar 2 semanas de trabalho pra cuidar de mim e posso afirmar sem medo que somos felizes; ele me ama e foi um dos maiores presentes que Deus me deu! Sou uma das administradoras do grupo “Eu tenho Chron e RCU e vou vencer” que hoje tem mais de 6 mil membros de todo o mundo e vejo muitas meninas reclamando que o casamento acabou, ou que o namoro não dá certo… Mas acredito que a fraqueza de um relacionamento começa na ÚNICA DEFICIÊNCIA QUE É REPUDIANTE, a deficiência de caráter! Não acredito que cada um tem o que merece, acredito que cada um tem o que escolhe.”
E afirma, ainda, que ” acredito que o sonho que a maioria de nós temos desde pequenas de casar de noivas, é para todas. E tenho por lema da minha vida, que quando ganhamos dinheiro é um reconhecimento, e quando abençoamos vidas, é gratidão a Deus por tudo que Ele faz por nós! Por isso, eu me dispus a dar o meu melhor para todas. As que podem e as que não podem.. eu as produzirei com o maior prazer!”
Por Talita Cazassus Dall’Agnol
Gosto de curtir, não. Gosto de escrever que gostei, que significativo, que meu luz.
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Perdão. Foi a pressa? Foi. Engoliu algumas palavras.
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